Delírio
31/12/2023 Por Anabol Loja Off

Delírio: O Que É, Tipos, Causas, Sintomas e Tratamentos

O delírio é um fenômeno psíquico que desafia a razão e a lógica. Diferente de uma simples crença equivocada ou de um pensamento fantasioso, o delírio é uma convicção falsa e inabalável, que se mantém mesmo diante de evidências claras de que não corresponde à realidade. Trata-se de um sintoma frequente em transtornos mentais graves, mas que também pode surgir em contextos clínicos, neurológicos e até induzido por substâncias.

Compreender o que é um delírio, como ele se manifesta, suas causas e opções de tratamento é essencial para o cuidado de pacientes e para o combate ao estigma em torno da saúde mental.


O Que É Delírio?

Delírio é uma crença persistente, falsa e irracional, que não se modifica mesmo quando se apresenta provas do contrário. A pessoa acredita firmemente em algo que não corresponde à realidade e mantém essa ideia com total convicção, sem reconhecer seu caráter absurdo.

O delírio não é uma mentira nem um engano proposital. Para quem o vivencia, aquela crença é absolutamente real.


Características de um Delírio

  • Falsa crença: não baseada em fatos concretos ou evidências.
  • Inabalável: não se corrige com argumentação lógica.
  • Abrangência: pode envolver desde uma ideia isolada até uma construção complexa.
  • Interferência na realidade: compromete a percepção da realidade e o julgamento.
  • Desconexão cultural: a crença delirante não faz parte da cultura, religião ou sociedade do indivíduo.

Diferença Entre Delírio e Alucinação

É comum confundir delírio com alucinação, mas são fenômenos diferentes:

TermoDefinição
DelírioCrença falsa, baseada em uma ideia (ex: ser perseguido pelo governo)
AlucinaçãoPercepção falsa (ex: ouvir vozes, ver coisas que não existem)

Ambos podem ocorrer juntos, principalmente em transtornos psicóticos como a esquizofrenia.


Tipos de Delírio

Os delírios podem ser classificados de diversas formas, principalmente pelo conteúdo da crença. Veja os principais tipos:

1. Delírio Persecutório (ou paranoide)

A pessoa acredita que está sendo perseguida, vigiada, espionada ou que alguém deseja prejudicá-la. É o tipo mais comum.

Ex: “Estão colocando veneno na minha comida” ou “A polícia me segue disfarçada”.

2. Delírio de Grandeza (ou megalomaníaco)

O indivíduo acredita que possui poderes extraordinários, riqueza extrema ou importância divina.

Ex: “Sou um enviado de Deus” ou “Sou o inventor de toda a tecnologia moderna”.

3. Delírio de Referência

Acredita que gestos, olhares, falas ou acontecimentos do ambiente se referem diretamente a ele.

Ex: “A apresentadora da TV está mandando mensagens para mim”.

4. Delírio Ciumento

Crença infundada e obsessiva de que está sendo traído pelo(a) parceiro(a), sem provas.

Ex: “Tenho certeza de que meu marido está com a vizinha, mesmo que ele não saia de casa”.

5. Delírio Religioso

A pessoa se acredita em contato direto com entidades espirituais ou como figura divina.

Ex: “Sou o novo Messias, fui enviado para salvar o mundo”.

6. Delírio Somático

Crença falsa relacionada ao corpo, como estar com uma doença grave, ter órgãos apodrecendo ou estar morto.

Ex: “Minhas tripas estão derretendo por dentro”.

7. Delírio de Controle ou Influência

Crença de que seus pensamentos, sentimentos ou ações estão sendo controlados por forças externas.

Ex: “Minha mente está sendo manipulada por um chip implantado pelo governo”.


Causas do Delírio

O delírio pode surgir em diversos contextos, não sendo exclusivo de transtornos mentais graves. Veja abaixo os principais grupos de causas:

1. Transtornos Psiquiátricos

  • Esquizofrenia: é a condição mais clássica onde delírios são proeminentes.
  • Transtorno delirante persistente: presença isolada de um tipo de delírio por pelo menos um mês, sem outros sintomas psicóticos importantes.
  • Transtorno bipolar: delírios podem ocorrer em episódios maníacos ou depressivos graves.
  • Depressão psicótica: combina sintomas depressivos com delírios, geralmente somáticos ou de culpa extrema.

2. Transtornos Neurológicos e Clínicos

  • Demências (como Alzheimer): delírios, especialmente persecutórios, são comuns em fases avançadas.
  • Tumores cerebrais: dependendo da localização, podem causar delírios.
  • Epilepsia do lobo temporal: pode vir acompanhada de alterações delirantes.
  • Distúrbios metabólicos e endócrinos: como hiponatremia, insuficiência hepática, tireoidopatias.

3. Síndrome Confusional Aguda (Delirium)

Apesar do nome parecido, delírio e delirium não são a mesma coisa. O delirium é uma condição médica aguda, com alteração do nível de consciência, desorientação e confusão mental — frequentemente reversível, mas que pode incluir delírios e alucinações.

O delirium é comum em:

  • Idosos hospitalizados
  • Pós-operatórios
  • Pessoas com infecções graves
  • Abstinência de álcool ou drogas

4. Uso de Substâncias Psicoativas

  • Drogas alucinógenas: LSD, ketamina, ayahuasca, podem induzir estados delirantes.
  • Cocaína e crack: frequentemente associados a delírios persecutórios.
  • Intoxicações por medicamentos: como antidepressivos, benzodiazepínicos, anticolinérgicos.
  • Abstinência alcoólica severa (delirium tremens)

Diagnóstico de Delírio

O diagnóstico de delírio é clínico, feito por médico psiquiatra ou neurologista com base em:

  • Entrevista detalhada com o paciente e familiares
  • Avaliação da coerência do discurso e percepção da realidade
  • Observação do comportamento e expressão emocional
  • Exclusão de causas clínicas, neurológicas ou toxicológicas

Exames complementares que podem ser solicitados:

  • Hemograma e bioquímica (ureia, creatinina, eletrólitos)
  • Função hepática e tireoidiana
  • Ressonância magnética ou tomografia cerebral
  • Eletroencefalograma
  • Exames toxicológicos

Tratamento do Delírio

O tratamento do delírio dependerá da sua causa base. Pode envolver:

1. Transtornos Psiquiátricos

  • Antipsicóticos (neurolépticos): são os medicamentos mais utilizados. Exemplos:
  • Estabilizadores de humor (quando há componente afetivo)
  • Psicoterapia: especialmente a terapia cognitivo-comportamental, como suporte

2. Delírios por causas clínicas ou neurológicas

  • Tratar a condição médica de base (infecções, desequilíbrios, tumores)
  • Suporte nutricional, correção de eletrólitos
  • Medicamentos em dose mínima possível, evitando sedação excessiva

3. Delírios induzidos por substâncias

  • Suspensão da substância causadora
  • Desintoxicação supervisionada
  • Reabilitação em clínicas especializadas
  • Apoio psicossocial contínuo

Como Lidar com Pessoas com Delírio

  • Evite confronto direto (“isso é mentira” ou “você está inventando”)
  • Mantenha uma abordagem empática e respeitosa
  • Evite reforçar a ideia delirante, mas também não a valide diretamente
  • Avalie risco de agressividade ou suicídio
  • Remova objetos perigosos do ambiente
  • Estimule o acompanhamento psiquiátrico regular

Quando Procurar Ajuda Médica?

A presença de delírios nunca deve ser ignorada. Busque ajuda profissional quando:

  • A pessoa apresenta comportamento desconectado da realidade
  • Há desconfianças injustificadas, falas desconexas ou paranoias
  • O indivíduo mostra agressividade ou risco de autoagressão
  • O delírio está prejudicando a vida social, familiar ou profissional

Considerações Finais

O delírio é um sintoma grave, porém tratável, que exige atenção médica especializada. Sua presença indica a necessidade de uma avaliação completa, pois pode estar associado a transtornos mentais, neurológicos, clínicos ou até intoxicações. Quanto antes identificado, melhor o prognóstico para o paciente.

Se você ou alguém próximo está demonstrando ideias desconexas da realidade, procure ajuda. A saúde mental é uma parte essencial do bem-estar, e o tratamento adequado pode transformar vidas.